Houve um tempo onde o azul ousou subestimar o vermelho...
Eu nasci em 17 de Março de 1986. Por enquanto não tenho nome, apenas eu sou eu, pois represento aqui um montante sem nome, um montante sem registro geral, CPF e endereço, apenas um montante vermelho. Orgulhosos vermelhos, não de vergonha, mas vermelhos de sangue, raça e suor, vermelhos de vitória, vermelhos de tanto gritar gol e vibrar com o nosso time. Somos vermelhos do clube do povo do Rio Grande do Sul, somos o vermelho que já não cabe mais em suas fronteiras pampeanas, somos o vermelho do sangue nos olhos ao travar as batalhas campais, somos o vermelho que um dia, humildes, foram subestimados pelo lado azul.
Sofri, e como sofri, sinceramente ainda sofro muito, pois não aguento ver o meu time perder. E quando ganha, e como ganha, sempre é sofrido de alguma forma. Mas eu disse no início que eu nasci em 1986. Logo, os anos 90 foram cruéis demais para nós torcedores colorados. Não ganhar e ainda ver o lado azul vencer e nos atropelar moralmente, isso era o pior, ser subestimados, ignorados e denominados incapazes de conquistar tais feitos. Houve um tempo onde o azul subestimou o vermelho.
A cada perda mergulhados em lágrimas de sofrimento, sempre havia aquela esperança guardada em algum lugar do passado, só nós colorados acreditávamos, perdíamos e a cada derrota e fracasso guardávamos no peito aquele rancor e mágoa. Era como se estivéssemos juntando forças para o futuro, por que guerreiros nunca desistem, pois guerreiros nunca se entregam, pois houve um tempo em que o azul subestimou o vermelho.
Eu sabia que um dia ia chegar a hora, fomos heróis ao suportar o que suportamos, era sofrido demais suportar tantas chacotas, flautas e humilhações. Mas havia um horizonte radioso de luz, e todos nós colorados, agora de todas as épocas, juntamos aquela força guardada no peito para gritar a todos os cantos do Mundo que somos o glorioso Sport Club Internacional, o centenário clube do povo, o celeiro de ases, o clube dos orgulhosos vermelhos campeões de tudo.
A nova era enfim chegara!
E não pensem que estamos satisfeitos e acomodados, queremos mais e tudo de novo, queremos eternamente soltar o grito de gol das gargantas, queremos eternamente gritar de felicidade as vitórias. E se um dia nos faltar novamente as glórias, estufaremos o peito e gritaremos bem alto: - EU SOU COLORADO!
Agora já tenho nome, eu sou o Cássio, Cassio de Oliveira Almeida, colorado, apenas um pontinho vermelho na imensidão vermelha dos orgulhosos e fanáticos torcedores. Hoje colho os frutos semeados enquanto sofria, hoje colho os frutos no gramado verde do Beira-Rio, pois sofri caminhando no solo cheio de pedras enquanto voltava para casa com apenas um sonho nas costas. Hoje sou o torcedor mais feliz do Mundo.
Hoje o Internacional está em outro patamar, eu sei, todo mundo sabe, mas mesmo assim não ouso subestimar os azuis, jamais, pois o Inter não seria o que é hoje se não fosse eles, o Inter não seria o Campeão de tudo se não fosse a rivalidade que assola cada confim do Rio Grande do Sul, o vermelho não seria, se o azul não existisse.
Por isso jamais subestimarei um inimigo caído, a honra maior sempre vai ser reconhecer um grande adversário.
Mas aos que não crêem nos sonhos e no reconhecimento saibam e acreditem, houve um tempo...
Houve um tempo onde o azul ousou subestimar o vermelho.
Cássio de Oliveira Almeida, um feliz colorado!
Lindo texto, parabéns.
ResponderExcluirMuito bom...Show de bola, Magal.
ResponderExcluirSó nós mesmos para conseguirmos tentar expor toda essa história.
E, ainda assim, é infinitamente insuperável dizer, com total clareza, o sentimento que nós, colorados, sentimos. Naquele tempo, "onde o azul ousou subestimar o vermelho", éramos crianças, com o coração e a mente frágil, atingível a qualquer espécie de intromissão externa.
E, para aqueles que suportaram, parabéns!!!
Existe no coração e na mente desses que suportaram uma racional paixão indescritível em qualquer face descritiva. Algo que só sentimos, mas não conseguimos explicar!!!Algo que acontece a cada jogo, a cada gol feito, a cada gol sofrido. Algo que é inerente aos poucos resistentes.
Mas o passado foi bom...Não devemos lembrá-lo com mágoas.
Pois, como diz um grande personagem, tudo aquilo foi nada menos que "prólogo" para o agora!!!
Grande abraço...
o texto está muito bom. mas quero contribuir ainda mais ao dizer que:
ResponderExcluirTambém houve uma época em que o vermelho subestimou o azul e foi a de 1970.
Mas quero dizer que acho isso normal. Pensem bem, o Grêmio ganha o seu primeiro título nacional quando o Inter já tem 3. Quem poderia, no ano de 1979, imaginar o que ia acontecer em 1983? Quem?
Nem mesmo no ano de 1983, em Janeiro, niguém acreditava, nem mesmo a família do Koff. Um dos filhos achou que ele tava pirado quando ele disse que naquele ano o Grêmio ia buscar o mundial. Ta no filme que o Grêmio fez sobre esse título.
E eu sei que o azul era subestimado por que meu avô (pai da minha mãe) era vermelho e me contou algumas histórias.
Outra subestimação dos vermelhos em relação aos azuis foi a construção do Beira-Rio. O próprio nome GIGANTE fazia esse papel. Era algo como o meu é maior e melhor que o teu. E era mesmo! Para mim isso é absolutamente normal.
Mas no campo, no jogo em sí não mais poderão haver subestimações por que agora estamos iguais no patamar, podendo variar apenas o número de conquistas e não mais a conquista em sí.
Quando Figueroa marcou os colorados diziam: Sabe quando vocês vão ser campeões do Brasil?NUNCA!
Mas o Baltazar marcou e empatamos.
Aí o Cesar e o Renato marcaram e agora quem falava eram os gremistas: Sabe quando vocês serão Campeões da América e do mundo? NUNCA.
Mas Sobis e Gabiru marcaram e ficou tudo igual de novo.
Quero dizer que entre 1975 e 1981 havia mesmo uma diferença de patamar pró-Inter. O colorado já era um time nacional e o Grêmio um regional.
O Grêmio se igualou em 1981 e dois anos depois passou a frente.
Entre 1983 e 2006 houve um diferencial pró-Grêmio, ou seja, o tricolor era um time mundial e o Inter era nacional.
Isso se igualou novamente em 2006 e como os dois chegaram no máximo agora não tem mais como haver subestimações.
Por isso eu digo, daqui para a frente apenas o número de títulos mudará e hora um; hora outro estará na frente. Mas nunca mais estaremos em patamares diferentes por que estamos todos no patamar máximo do futebol mundial em termos de títulos.
AMBOS SOMOS CAMPEÕES DO MUNDO!!!
NADA PODE SER MAIOR!!!!
PELO MENOS ATÉ COLONIZARMOS MARTE, HEHEHEHE
O que o Luciano colocou é interessante e, com certeza, contribui com o texto.
ResponderExcluirMas, penso que não há possibilidade de comparação nesses momentos históricos da dupla GRENAL. Cada história é uma história, diferente de qualquer outra. São dois momentos absolutamente desiguais, em se tratando da concepção que se tinha e se tem sobre futebol.
Na década de 70, para os clubes brasileiros, o maior orgulho que um clube recebia de seus pares era ser convidado para participar de torneios internacionais (centenários) com os grandes clubes da Europa. Esse era o sonho de muitos clubes daqui. Além disso, ter a oportunidade de formar a seleção nacional era outro desejo dos grandes clubes do Brasil.
O objetivo de levantar a taça de melhor da América só começa a ter importância, para nós brasileiros, a partir da década de 80, com o grande time do Flamengo. Após, vem Gremio. Porém, ainda não era a grande coisa.
A loucura pela Libertadores começou mesmo só a partir do início dos anos 90. E aí, foi um delírio. Só o que interessava aos brasileiros era ser campeão de um torneio sempre ligado aos hispânicos. Era poder levantar a taça em meio às batalhas campais na Argentina, na Colômbia, no Paraguai e no Uruguai. E foi o hora dos brasileiros!
No século XXI, a Libertadores se tornou um título muito cobiçado. Mas seu principal objetivo para os clubes, além de ser o campeão (claro), era de poder levar o nome do próprio clube para uma dimensão continental e internacional. Isso a fim de receber grandes recompensas financeiras, em relação a valor da marca, marketing, venda de jogadores etc.
Assim, cada momento é um momento.
O que os jovens gremistas da década de 70 sentiam, em ver o Inter ser tri brasileito, não é a mesma coisa que os jovens colorados sentiram na década de 90, vendo o gremio ser bi américa.
São sentimentos diferentes.
Eu não consigo pensar qual é o sentimento do gremista de 70.
Mas consigo sentir o sentimento do colorado de 9.
E, mesmo podendo sentir, por ter experimentado, não consigo expor o que é. Porém, por tudo o que se sucede hoje, é algo fantástico: uma redenção!