
Gosto quando vejo conceitos que eu defendo aqui no blog Preleção como premissas também do trabalho prático de bons treinadores. Ontem o novo comandante da Seleção Brasileira, Mano Menezes, concedeu entrevista ao programa Bem, Amigos! da Sportv, e falou sobre o 3-5-2. Descartou, de pronto, o uso deste sistema, apresentando diversas restrições.
Mano Menezes compartilha de um conceito trabalhado por José Mourinho em seus clubes: o 4-3-3 é o sistema que oferece maior equilíbrio na ocupação de espaços. Afinal, a que se resume toda a teoria tática do futebol? Ao estudo das melhores maneiras de ocupar os espaços do campo, e no tempo certo.
É por isso que Mano se utiliza do 4-5-1 com linha de três meias ofensivos (ou 4-2-3-1). Este sistema apresenta uma rápida variação ao 4-3-3, dependendo apenas de um avanço mínimo no posicionamento inicial dos meias-extremos, combinado à característica ofensiva destes jogadores - muitas vezes, atacantes atuando como wingers, como debatemos ontem. Portanto, propõe-se à melhor ocupação de espaços.
Mano justificou o uso do 4-2-3-1 comparando-o ao 3-5-2 brasileiríssimo. Separei algumas frases do treinador da Seleção Brasileira sobre este modelo tático. Perdoem-me se não trago aqui a transcrição literal, porque não anotei na hora da entrevista, mas o resumo é este, talvez com outras palavras:
“Prefiro a linha defensiva de quatro jogadores porque é mais equilibrado ocupar uma faixa de 60 ou 70 metros com quatro do que com três jogadores”.
“O 4-2-3-1 ou o 4-3-3 oferecem uma ocupação melhor dos espaços”.
“O 3-5-2 obriga os alas a jogarem lá em cima, e deixa o jogo muito maluco”.
“O Brasil tem melhores alternativas para explorar sua característica de controle da posse de bola do que o 3-5-2″.
Esta última é a principal ideia, que eu tanto defendo: além da ocupação equilibrada de espaços, a melhor estratégia sempre é buscar o controle da posse de bola. Jogar com a bola nos pés é a melhor maneira de marcar o adversário - pois evita que ele, obviamente, tenha a bola - e também (não menos óbvio) a melhor maneira de marcar gols. Isso não quer dizer que outras estratégias não sejam eficientes. Não estou aqui falando de resultados, mas sim de desempenho.
E o mais importante de tudo: jogar com a bola é a característica do futebol brasileiro. Transitar ao 3-5-2 na Seleção Brasileira seria abdicar do nosso tradicional estilo de jogo. O próprio Mano Menezes destacou na entrevista: “o Brasil tem que voltar ao protagonismo, a propor o jogo, a controlar a posse”. Perfeito.
O 3-5-2 é um sistema planejado, no Brasil, para combater e especular. Sem linha de quatro jogadores, a marcação por zona é trocada pela marcação individual por função. Os zagueiros perseguem os atacantes adversários, os volantes marcam de cima os meias, os alas batem com os laterais, e sobra um jogador para as eventuais coberturas. Um planejamento de marcação que coloca em risco a organização da equipe, por obrigar seus atletas a deixar seus posicionamentos nestas perseguições. E ainda escancara áreas vulneráveis, no espaço entre o ala ofensivo e o zagueiro do lado.
Com a bola, o 3-5-2 abdica da posse e do controle, porque conta com poucos jogadores no meio-campo. A articulação se dá na bola longa, à moda antiga (kick and rush - ou “chutar e correr”), acionando os alas ou então procurando o centroavante de referência, que recua e tenta acionar o atacante na segunda bola.
A controvérsia, entretanto, torna o debate divertido. Afinal, este 3-5-2 que tanto me desagrada é tricampeão brasileiro com Muricy Ramalho, que novamente lidera o Brasileirão usando os três zagueiros à brasileira. Mau desempenho para quem gosta de futebol, mas resultados e efetividade para quem depende disso. Não poderia condenar um técnico por adotar o 3-5-2 brasileiro. Não gosto de ver estas equipes jogarem, os desempenhos me desagradam, mas os resultados obtidos se impõem.
É por isso que eu faço questão de ressaltar: dou-me ao direito de dirigir minhas análises ao desempenho, e não ao resultado. Trabalhar conceitos teóricos e suas aplicações práticas sem se preocupar com títulos. Afinal, quem precisa ser efetivo e campeão é o técnico, são os jogadores, e quem exige isso é a torcida. O jornalista não é campeão. O jornalista pode sim idealizar e propor conceitos que considera mais apropriados por não depender dos resultados, como dependem os técnicos que justificam desempenhos ruins com títulos. Um dilema, realmente.
Legal Luiz, só tenho uma dúvida, ou melhor uma avaliação. Aquele 3 5 2 do gráfico é o utilizado aqui no Brasil. O que eu defendo e gosto é quando tem um volante e dois meias. Esse volante é volante mesmo e o homem da sobra (chamado nos bons tempos de Líbero) pode estar tanto atrás como na frente da zaga. OU seja, quando a coisa aperta tem 4 aliá atráz. Neste caso os alas vão e vem muito, tem que ser caras como o Cafú no auge que correm o tempo todo, ou então caras que sabem se posicionar muito bem. Isto também corrige aquelas áreas que ele chamou de "carentes na transição ofensiva."
ResponderExcluirSe não me engano, se estiver enganado me digam, era mais ou menos assim que era o 3 5 2 do TITE no Grêmio, o melhor que já ví no Brasil.
Luciano, entra no msn que preciso falar contigo URGENTE!
ResponderExcluirainda prefiro o 3-5-2 com tres meias um central e dois alas e dois volantes um saindo mais. Isso sim é um 3-5-2 que o próprio saconni chama de 3-5-2 com triangulo de base baixa.
ResponderExcluir